quinta-feira, 1 de outubro de 2015

KRAKATOA, A MAIOR ERUPÇÃO VULCÂNICA CONTEMPORÂNEA




              O Estreito de Sonsa entre as ilhas de Sumatra e Java, na Indonésia, possui um grande histórico de catástrofes ligadas a cataclismos naturais. A grande erupção do vulcão Krakatoa, no século XIX, tem sido um ícone na lembrança da humanidade, que não nos deixa esquecer que somos muito frágeis perto das forças da Natureza.

O NASCIMENTO
                A intensa atividade na região da Indonésia é normalmente provocada pelos choques das placas tectônicas Indo-Australiana e Euro-Asática. Este choque provoca intensos terremotos que podem desencadear tsunamis ou erupções vulcânicas. Em tempos remotos emergiu do mar o cone original da Ilha de Krakatoa. Ainda na pré-história, durante uma grande erupção, o cone se fragmentou e um novo monte se formou ao sul da primeira cratera, era o Rakata, que expelindo grande quantidade de material incandescente, elevou-se aos ares. Posteriormente, dois outros montes se formaram ao norte, o Perbuwatan e o Danan. Assim se formou a Ilha de Krakatoa como os primeiros nativos e o mundo contemporâneo a conheceu.
                Em 1680 o vulcão Perbuwatan acordou numa intensa erupção. A grande quantidade de material incandescente e os gases tóxicos destruíram toda a vegetação da ilha, tornando-a inóspita novamente. Com o passar de dois séculos, Krakatoa voltou a ser um novo paraíso verde.

O AVISO
                No início da primavera de 1883 a Ilha de Krakatoa dava seus primeiros sinais de despertar. Entre maio e junho a atividade foi moderada, voltando a intensificar-se em agosto. Fumaça densa, novas fendas e um rio de lava abria caminho pela mata em direção ao mar. A população ao redor, colonos holandeses em Java e Sumatra, não se alarmou inicialmente, pois de tempos em tempos Krakatoa rugia e transbordava lava.
                Em agosto, chegou em Batávia (como era chamada a capital de Java de 1619 a 1942, hoje Jakarta) o capitão holandês Ferzenaar, informando que haviam dois novos vulcões em Krakatoa e que uma grande catástrofe estaria iminente. Ferzenaar foi o último homem branco a pisar em Krakatoa. Ele relatou que a ilha estava tão quente que o solado de sua bota desfez-se. Opinava que todos deveriam deixar a ilha e se abrigar o mais longe possível até que Krakatoa esfriasse. Em Batávia, seus alertas não foram elevados a importância que deveriam. Afinal decontas a ilha estava a 160 km de distância e erupções moderadas não eram uma total novidade para ela.

A MORTE
                Nos dias que se seguiram em agosto de 1883, o Estreito de Sonsa assumia uma imagem aterradora, com suas águas fervilhando e uma densa camada de fumaça e fuligem no ar. Os comandantes dos navios retrocediam quando viam o estreito coberto por um manto de cerca de 30 centímetros de fuligem e a água fervilhando.
                Na tarde de 26 de agosto, o constante rugido da ilha de Krakatoa foi interrompido várias vezes por violentas explosões, cada vez mais fortes e frequentes.  À noite, pouco antes das sete horas, houve uma grande explosão cujo som aterrador levou pânico a um raio de centenas de quilômetros. Em Buiterzorg (Java), cerca de 98 Km da ilha, narrou-se que os edifícios tremeram e diversas fendas foram abertas nas estruturas, as portas foram repentinamente abertas com um sopro invisível vindo do mar. As pessoas saiam às ruas em desespero com uma sequência de explosões ensurdecedoras. Uma nuvem negra subia a 25 Km de altura.
                No dia 27, mais quatro erupções precederam então ao maior espetáculo pirotécnico que o homem contemporâneo já vira. Uma grande explosão (equivalente a 7.000 bombas de Hiroshima), literalmente arrancou a ilha pela base e fez explodir em pedaços, lançando aos ares 56 quilômetros cúbicos de rocha. A violência da explosão criou vários tsunamis. Embora não houvesse nenhum povoamento importante num raio de 160 Km, cerca de 37.000 pessoas morreram. A onda sonora da explosão percorreu 4800 quilômetros, sendo ouvida em Madagascar e na Austrália. Ao mesmo tempo em que explodia, um sopro na forma de ondas concêntricas de ar começou a girar em volta da Terra. A primeira chegou a Londres, do outro lado do planeta, um dia e meio após a explosão. Gigantescas ondas varreram a costa de Sumatra e Java. Um navio de guerra, Beroun, que se encontrava atracado em Sumatra, foi arrastado mais de três quilômetros para dentro da selva.


                As forças das ondas de mais de 40 metros de altura arrasaram cerca de 300 povoados nas costas do Estreito de Sonsa e afundaram e/ou danificaram cerca de 6.500 embarcações. Oficialmente morreram 36.417 pessoas, cerca de 10% destas, decorrentes do material vulcânico que era arremessado ao ar e retornava como mísseis incandescentes para a terra.
                Dos 45 quilômetros quadrados da Ilha de Krakatoa restaram, somente, 4 quilômetros quadrados. As nuvens de poeira vulcânica foram transportadas pelo ar ao redor da Terra e permaneceram durante muitos meses. Em Paris, Nova Iorque, Cairo e Londres o pôr-do-Sol assumiu uma tonalidade azul-chumbo e a luz da Lua e das estrelas pareciam ser esverdeadas. O fenômeno estendeu-se até a primavera do ano seguinte, como um sudário que lembrava a morte de Krakatoa.

O RENASCIMENTO
                Quatro meses após a explosão, um botânico encontrou na ilha uma pequena aranha. Alguns anos mais tarde começaram a brotar ervas e arbustos. Logo apareceram larvas, formigas, serpentes e pássaros. Aportavam em troncos flutuando pelo mar caracóis e escorpiões. Aves traziam novas semente e a vida recomeçava na ilha. O espetáculo que normalmente teria demorado milhares de anos, ocorria em poucos meses. Algumas espécies estabeleciam-se cronologicamente na ilha para que outras pudessem chegar em seguida, e sobreviver. O plano acidental de repovoação mais pareceu o cumprimento de um cronograma. Em 1910 a ilha estava infestada de formigas, pouco tempo depois com as aves e répteis, elas praticamente desapareceram. A ilha transformou-se num paraíso naturalista no fim da década de 20 e o governo holandês transformou-a em reserva ambiental, ou parque natural, permitindo a entrada apenas de cientistas de renome.